FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Supressão de Defesas - Missões SEAD *201




Todos os alvos de alto valor, são hoje inevitavelmente protegidos por mortíferas redes antiaéreas compostas em sua última instância, depois de vencida a aviação de caça, por mísseis e canhões com pontaria endereçada por radar e ponto de impacto determinado por computadores balísticos. Neutralizar estes sistemas a fim de permitir que as unidades de bombardeio possam executar suas missões em segurança é o objeto das missões de supressão de defesas (SEAD), vital na guerra aérea moderna e por vezes negligenciada devido ao excesso de confianças nas tecnologias “stealth”.


Aviões de combate são meios valiosos e tendem a ser preservados ao máximo, razão pela qual suas rotas de voo devem ser o mais seguras possível. Além de preservar o valor desta aviação, as missões SEAD (Suppression of Enemy Air Defences - Neutralização de Defesas Antiaéreas Inimigas) constituem peça fundamental da própria missão de bombardeio, pois se não forem eficazes, o próprio bombardeio poderá ser frustrado. Os sistemas de defesa antiaérea (IADS - Integrated Air-Defense System) são a segunda arma de defesa de uma nação ou força armada, só precedidas pela aviação de caça e interceptação. O coração destes sistemas são os seus radares de direção de tiro, os quais são alertados da aproximação de seus alvos pelos radares de vigilância de área e alerta antecipado. Não menos importantes são seus centros de comando e controle, baterias de tiro, redes de comunicações e apoio logístico - notadamente as fontes de energia; porém neutralizar a operacionalidade dos radares, são a forma mais usual de se executar esta modalidade de missão aérea, sem os quais as armas propriamente ditas ficam virtualmente "cegas" ou descoordenanas. Destruir um radar de vigilância de área faz com que as baterias tenham que ligar seus radares para busca, tornando-se vulneráveis aos mísseis ARM.

Os campos de batalha modernos são caracterizados por vários sistemas integrados de defesa antiaérea e as missões SEAD fornecem acesso a esses ambientes protegidos. Na Segunda Guerra Mundial o poder aéreo provou ser uma ameaça significativa e crescente às forças terrestres e navais, bem como às cidades e centros de manufatura. Essa tecnologia de amadurecimento rápido impulsionou o desenvolvimento e o uso tático precoce do radar pelas potências aliadas e pelo Eixo. A introdução desses sistemas de radar primitivos, representou uma ameaça maciça para estas missões diurnas e noturnas, detectando-as antes que fosse capazes de atacar. Seu desenvolvimento criou a necessidade de contramedidas mais complexas para derrotar esta tecnologia nova e em evolução. No início da guerra, essas contramedidas táticas envolviam bombardeios e técnicas simples de coleta de informações e, a princípio, provaram ser bem-sucedidas nas primeiras operações. Isso marcou o início da missão que mais tarde seria conhecida como Supressão das Defesas Aéreas Inimigas (SEAD).

Estas missões nasceram com o advento de seu alvo, o radar. Já na II Guerra Mundial os bombardeiros alemães foram os primeiros a enfrentar o sistema de alerta britânico, e as primeiras missões antiradar foram desencadeadas. Rapidamente foram conseguidos avanços nos meios de guerra eletrônica e não demorou muito para que as primeiras missões de destruição fossem desencadeadas. Antes do desenvolvimento de uma plataforma dedicada, as missões SEAD eram realizadas por vários tipos de aeronaves que foram adaptadas para atender a uma necessidade imediata, mas as suas raízes cresceram a partir das táticas básicas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial. A detecção de radares naquela época tinha uma taxa de sucesso aproximada de 50/50. Bombardeiros e caças aliados tinham liberdade para atacar seus alvos ou serem descobertos e posteriormente atacado por artilharia antiaérea guiada ou enxames de caças vetorados por radar. Precisando priorizar seus alvos para acompanhar o fluxo da guerra, as aeronaves que voavam em missões de supressão de defesas inimigas redirecionaram seus esforços para localizar e atacar sítios de radares inimigos.

No teatro do Pacífico, os B-24 Liberators e B-29 Superfortress foram equipados com equipamento de alerta-radar muito primitivos e enviados para o território ocupado pelos japoneses a partir de 1944. Do ponto de vista estratégico, essas missões foram apelidadas de “furão de radar”, especialmente por causa da capacidade das aeronaves que eram equipadas para localizar sítios de radar inimigos “desentocando-os”, para serem destruídos pelos atacantes que vinham logo depois. Foi também neste teatro que equipes de “caçadores-assassinos” B-25 Mitchell foram montadas, e desenvolveram táticas e procedimentos básicos que seriam usados por futuras gerações de pilotos, e instituiu-se a frase “o primeiro a entrar, o último a sair”, uma frase que descreve a natureza abnegada da tática dos “ Weasel”. Um líder B-25 usaria seu equipamento de detecção de radar para localizar sítios de radar japoneses. Uma vez localizados, as equipes “Hunter-Killer” voariam em baixa velocidade, atacando seu alvo com bombas retardadas para destruir o local do radar e seu equipamento de apoio. A missão SEAD obteve sucesso constante ao longo dos estágios finais da Segunda Guerra Mundial, mas viu muito pouco uso durante as subsequentes batalhas de superioridade aérea da Guerra da Coréia. Foi só com o advento do sistema de mísseis SAM guiados por radar da URSS que estas missões evoluíram para a era do jato. O desenvolvimento continuou durante a Guerra da Coréia de forma muito acanhada, e foi no Vietnam com o aparecimento do SAM SA-2 Guideline que as missões SEAD alcançaram sua maioridade.

Com a Guerra do Vietnam em curso, as aeronaves e as táticas americanas avançaram, assim como a tecnologia usada pelos norte-vietnamitas. Estes sítios SAMs vitimaram muitas aeronaves e controlaram os céus durante os estágios iniciais da Guerra. Ao longo de vários experimentos e sucessos, tanto no Vietnam como na Tailândia, o papel das missões SEAD evoluiu, assim como as aeronaves que o desempenharam. O F-4G Phantom II chegou tarde demais para o conflito do sudeste asiático e foi o herdeiro das missões “Weasel”, período em que estas missões foram relegadas a segundo plano, mas não chegou a ver combate real, e na década de 1990 este programa da USAF tomou um rumo diferente. Após a operação “Desert Storm” o F-4G deixou o serviço ativo e os F-16CJ assumiram as missões SEAD da USAF. Criticado como aeronave inferior aos F-4, provou na operação “Iraqi Freedom” que os críticos, mais uma vez, estavam errados.



Os Alvos

Como dito, os alvos das missões SEAD são os radares de alerta antecipado da defesa aérea e os diretores de tiro de SAMs e canhões AAé. A finalidade destas missões não é destruir os radares e sim impedir que o inimigo use seus meios antiaéreos de forma eficaz, ainda que na maioria das missões a destruição seja o resultado final, o que é desejável pois impede seu uso futuro. Destruir os radares deixa a bateria inoperante, porém destruir toda a bateria impede que ela volte a operacionalidade com outro radar. Para que sejam combatidos com eficácia é necessário que os sistemas antiaéreos sejam conhecidos, e este reconhecimento é frequentemente efetuado em tempos de paz através de ações de EW estratégica que registram os diversos parâmetros de operação destes sistemas. Em tempos de guerra as ações de busca de alvos desta natureza são intensificadas com prioridade a localização e presença destes, uma vez que seus parâmetros quase sempre são bem conhecidos, a exceção daqueles que constituírem "novidades".

É virtualmente impossível desdobrar defesas eficazes em todos os locais que se façam necessárias, de forma que seu número e poderio será diretamente proporcional a importância do alvo que defendem. Montar este mapa, identificando brechas é a primeira tarefa dos envolvidos no combate SEAD. Se o defensor tentar cobrir tudo com defesas antiaéreas, fatalmente as tornará rarefeitas favorecendo o atacante que pode concentrar seus meios. São dispostas geralmente de forma escalonada, de forma a proporcionar a absorção gradual da ameaça com engajamentos múltiplos evitando a saturação do sistema. Este dispositivo também permite alerta antecipado às defesas posicionadas mais a retaguarda, dando-lhes maior tempo de reação. Desdobradas nas prováveis rotas de ataque, geralmente não cobrem todos os flancos e são limitadas em número. Outras contramedidas a SEAD são aumentar a mobilidade dos sistemas, conectar radares em rede, utilizar-se de detecção passiva e multiespectral e emitir apenas em períodos muito curtos

As baterias SAMs de longo alcance geralmente defendem alvos de valor estratégico e imóveis como postos de comando de alto escalão, radares de vigilância, refinarias, usinas de força, fábricas, bases aéreas, portos e áreas de desdobramento logístico. Esta muitas vezes são defendidas por baterias de SAM menores e canhões. Os sistemas táticos defendem concentrações de tropas, pontos de tráfego de grande valor, baterias costeiras e outros alvos de médio valor; e são dispostos em locais mais elevados. Os sistemas de bombardeio SEAD geralmente contam com recursos informatizados com a maioria dos sistemas memorizados, provenientes tanto das ações de tempo de paz que priorizam "envelopes de operação", como àquelas efetuadas durante a campanha que priorizam presença e localização. Num campo de batalha típico, muitos dispositivos antiaéreos operam simultaneamente, tanto amigos quanto inimigos, e cabe a estes sistemas subsidiar o operador de guerra eletrônica na escolha daqueles que constituem as maiores ameaças, bem como evitar de atingir sistemas amigos.



As Armas

Para se neutralizar um radar é necessário que ele fique inoperante durantes alguns momentos, para que a aviação de ataque possa transpor seu espaço aéreo em relativa segurança, e para tal as unidades de SEAD devem interferir eletronicamente de forma que ele perca sua eficácia ou coloquem um petardo qualquer, que não necessita ter uma potência muito grande, próximo o bastante para que seja posto fora de ação, neste caso em definitivo. Estes petardos podem ser bombas convencionais, dirigidas ou mísseis de emprego especializado. Estes últimos podem ser engenhos teleguiados ou de guiagem passiva com os ARMs (anti-radiation missile), que como o próprio nome diz, buscam a radiação emitida pelos seus alvos (radares de busca e direção de tiro). Apesar de seguirem um conceito simples, são poucos os modelos produzidos até hoje e os mais famosos são os HARM, Shirke e Standard norte-americanos; os Martel, ARMAT e ALARM europeus e alguns modelos russos como o AS-6 e AS-12. No Brasil foi desenvolvido o modelo MAR-1 para a FAB. São engenhos especialistas concebidos especialmente para este tipo de missão.

O uso de bombas não é aconselhável devido a necessidade de aproximação do atacante, e é usado como recurso extremo. Os ARMs devem ser projéteis muito rápidos devido a possibilidade do defensor desligar o radar, o que desorientaria o míssil.  A capacidade de "lembrar" a posição do alvo é útil nestas situações, e alguns modelos mais sofisticados as possuem. Outra característica destas armas é o longo alcance, a fim de não expor a aeronave lançadora através do disparo além do alcance das armas inimigas. Tecnologias como o data-link e os UAV são muito interessantes nestas missões, pois proporcionam troca de dados em tempo real com tempo de reação reduzido e baixa vulnerabilidade para os pilotos. A neutralização de sistemas anti-aéreos valendo-se apenas de interferidores eletrônicos também é possível e dependem das características dos equipamentos empregados. Porém o uso desta técnica não impede que os radares e suas baterias de SAMs sejam usados posteriormente.

As missões SEAD (Wild Weasel) no Sudeste Asiático

Este conflito protagonizou as primeira missões SEAD depois da Segunda Guerra, quando estas missões deram seus primeiros passos. Durante a Guerra do Vietnã, a principal ameaça às aeronaves de ataque era o SAM V-750 (S-75) Dvina, o primeiro míssil soviético realmente eficaz. Mais conhecido pela designação da OTAN por SA-2 Guideline, o míssil foi desenvolvido em meados dos anos 1950 e foi usado para derrubar o U-2 de Gary Powers sobre a URSS em 1960 e o U-2 do Maj. Rudolph Anderson sobre Cuba em 1962. O Vietnam do Norte começou a receber SA-2s logo após o início da Operação Rolling Thunder, e em 24 de julho de 1965, e um Guideline abateu um F-4C, a primeira das 110 aeronaves da USAF perdidas para SAMs no Sudeste Asiático. Após seu aparecimento, o SA-2 ameaçou interromper as operações aéreas sobre o Vietnam do Norte: na verdade, enquanto voavam baixo para evitar SAMs, os caças-bombardeiros ficavam mais vulneráveis ??ao fogo mortal da artilharia antiaérea (AAA), que os forçava a lançar suas bombas cedo ou descartá-las de qualquer forma. Além disso, os locais SA-2 eram cercados de AAA, o que os tornava ainda mais perigosos para ataques, como comprovam as perdas de aeronaves americanas sofridas no primeiro ataque contra 2 baterias SAMs conduzido em 27 de julho de 1965, quando 6 de 46 F -105s envolvidos na missão, foram abatidos e muitos mais danificados por AAA.

Para suprimir e destruir essa ameaça, a USAF lançou mão da coragem e habilidade dos “Wild Weasels”, que não só voaram algumas das missões mais perigosas no Sudeste Asiático, mas também se tornaram pioneiros nas operações de Supressão das Defesas Aéreas Inimigas (SEAD) em formato mais moderno, herdeiros dos aviadores da Segunda Guerra Mundial. As primeiras surtidas “Wild Weasel” foram realizadas no outono de 1965 e foram planejadas em torno do conceito de "caçador-assassino" usando 2 aeronaves: uma tinha que localizar as baterias SAM inimigas, enquanto a outra tinha que destruí-las fisicamente. A primeira, com a missão de caçar os SAMs, foi o F-100F, enquanto o avião assassino era o F-105. Em janeiro de 1966, o F-105F de 2 lugares foram escolhidos para substituir o F-100F e melhorar o desempenho de ambos os membros da equipe.

O Republic F-105 Thunderchief foi projetado para substituir o F-84F como um caça-bombardeiro para o TAC, graças aos seus aviônicos, possuindo capacidade de voo para qualquer tempo. Para servir como “Wild Weasel”, o “Thud” (como o F-105 foi apelidado por suas tripulações) foi equipado com o equipamento ATI (Applied Technologies Inc.) que contava principalmente com o dispositivo RHAW (Radar Homing And Warning) para monitorar diferentes frequências de radar. Essas aeronaves foram chamadas não oficialmente de EF-105Fs e oficialmente designadas como F-105F WW-IIIs (com WW-III significando Projeto Wild Weasel III). Para evitar o sobrevoo do alvo pelo F-105F, a USAF armou esta variante do Thunderchief com o míssil anti-radiação AGM-45 Shrike, que poderia ser lançado a até 10 milhas do alvo e, graças à sua alta velocidade, tinha um tempo de voo de menos de 60 segundos. Apesar de todas essas características, o Shrike tinha uma taxa de letalidade de apenas 25%, devido a sua pequena ogiva de fragmentação e um ataque sobre o alvo era frequentemente necessário para destruir o resto do complexo, pois o míssil apenas o danificava. O F-105F voou as suas primeiras missões em meados de 1966. Essas missões foram as mais perigosas da guerra porque os “Wild Weasels” tinham que chegar à área alvo antes da força de ataque e ficar por lá até que todas as aeronaves de ataque tivessem atingido seu alvo (daí o seu lema “primeiro a entrar, último a sair”), sendo exposto ao fogo inimigo (MiGs, AAAe SAMs) mais tempo do que qualquer outro. A força de ataque entrava e saía o mais rápido possível, enquanto os “Weasels” ficavam por ali por longos períodos. Após ter voado como piloto caçador de F-100F, o Coronel Edward Rock voou nas operações “Iron Hand” com o Thud. Ele se lembra de sua primeira surtida com o F-105F em seu livro “First In. Last Out”: “Minha primeira missão de combate em 11 de julho de 1966 ... foi normal, exceto que foi a primeira vez que vi um equipamento de alerta-radar (RWR) acender como uma árvore de Natal, com todos os radares dali tentando nos rastrear e engajar. Além disso, cada radar emitia seu próprio som particular. O radar SAM tinha uma assinatura muito distinta que parecia uma cascavel prestes a atacar. As luzes e o barulho eram suficientes para assustar você. " Esta impressão é dramaticamente confirmada pelas perdas do F-105F WW-III no primeiro mês de missões: na verdade, em julho de 1966, 11 Thuds estavam ativos no Vietnam, mas dentro de um mês 5 foram perdidos devido à ação hostil. Essa taxa de perda garantiu que nenhum piloto pudesse completar um tour de 100 missões como “Wild Weasel”.

Para reduzir as perdas, várias melhorias foram introduzidas, como o míssil AGM-78 Standard, com uma ogiva de 220 libras que podia ser disparada contra o alvo a uma distância de 60 milhas. Mas a característica mais importante foi a introdução do pod ALQ-101 ECM para reduzir a eficácia das defesas direcionadas por radar: com este pod permanentemente montado, o F-105F foi designado F-105G. Ainda assim, apesar de todas essas melhorias, as missões “Wild Weasel” continuaram sendo muito arriscadas para as tripulações dos F-105 e algumas delas foram premiadas com a Medalha de Honra por causa da coragem que demonstraram em combate. Como aconteceu com Merlyn Dethlefsen e seu EWO (oficial de guerra eletrônica) Mike Gilroy, em março de 1967: “Apesar de terem sido danificados por AAA, suas ações resultaram em tornar ineficazes os locais de SAM e AAA defensivos do inimigo na área do alvo e possibilitaram a garantia de que caças-bombardeiros pudessem atacar com sucesso.




A Natureza das Missões SEAD

Quando as forças de coalizão lideradas pelos EUA em 2003 operaram na libertação do Kuwait, a fim de expulsar o exército invasor do Iraque; foram as forças aéreas que fizeram a ponta de lança dos engajamentos, onde como preconiza a moderna doutrina militar, o poder aéreo destruiu a maior parte das forças invasoras muitos dias antes das forças em terra adentrarem o território kuwaitiano, onde encontraram um inimigo muito debilitado pelos seus algozes do ar. O sistema de defesa antiaérea do Iraque foi neutralizado em apenas 3 dias, reduzindo seu poder a armas de curto alcance, desvinculadas de um sistema integrado.

Em 1965 a USAF colocou em serviços seus primeiros esquadrões especializados em missões SEAD, denominados “Wild Weasel”, no Vietnam a fim de contrapor a extensa rede de defesa aérea de origem soviética com seus SAMs posta a serviço do exército do Vietnam do Norte. Relatos não oficiais dentro da comunidade “Weasel” dão conta de mais de 250 radares postos fora de combate por estas unidades. Porém como é comum na atividade humana, as valiosas experiências obtidas são logo esquecidas até que se precise delas novamente, e sejam recuperadas a um custo mais alto. Após o conflito, as capacidades de guerra eletrônica (EW) que permitiram alcançar este sucesso foram relegadas ao esquecimento, sem substituição. Em 1999 sobre a Sérvia não houve degradação do sistema de defesa aérea integrada após 78 dias de combates, porém em um ambiente de guerra assimétrica e irregular, estas deficiências foram pouco percebidas, tampouco o foram no Afeganistão, onde a defesa aérea era precária, descoordenada ou inexistente.

Em 2003 uma campanha de ataques letais destruiu por completo um sistema altamente integrado de SAMs e radares, de origem russa. Na ausência de uma ameaça moderna, a falta de capacidade implícita da USAF na Supressão das Defesas Aéreas Inimigas (SEAD) passou despercebida. Em um ambiente em que os EUA tinham uma supremacia aérea inconteste, o Pentágono esqueceu por completo que a superioridade aérea é necessária e como ela é alcançada.

Implicações Operacionais

A superioridade aérea é pré-requisito fundamental em qualquer campanha militar, em um ambiente onde o inimigo tenha capacidade de contrapor o controle do espaço aéreo. É possível conduzir operações eficazes quando nenhum dos lados tem a superioridade aérea, mas é efetivamente impossível se o adversário tiver o controle do ar (supremacia aérea). Na esteira da Operação “Desert Storm”, os grandes operadores globais foram lembrados do fato imutável da ameaça aérea e fizeram desde então grandes investimentos em defesas antiaéreas. A Rússia e a China lideraram a empreitada, colocando em prática dezenas de novos sistemas destinados não apenas a conter o poder aéreo, mas especificamente a combate-lo. As implicações abrangem uma série de missões da USAF, incluindo, e especialmente, contraofensiva aérea, interdição e apoio aéreo aproximado (CAS) em um ambiente “duro”. A doutrina “Wild Weasel” na época da Guerra do Vietnam era mirar os radares de aquisição dos SAMs, privando a defesa aérea divisionária soviética de endereçamento e forçando os operadores a adquirir alvos visualmente. Na Europa, com tetos muito baixos, visibilidade ruim e terreno ondulado, essa era uma boa aposta quando combinada com operações de baixa altitude. E valeu a pena na Operação “Desert Storm”, quando a tríade de combate eletrônico (F-4G, EF-111A e EC-130) destruiu as partes dependentes de radar dos sistemas de defesa aérea iraquianos integrados.

Da mesma forma, os aspectos não-SEAD das operações de contraofensiva aérea (SEAD é um subsistema do sistema de contraofensiva aérea) também dependem da supressão robusta e eficaz destas defesas. Até mesmo aeronaves furtivas como o F-22 exigirão um suporte SEAD robusto, assim como os F-117 e os B-2 fizeram durante a Operação “Allied Force” na Iugoslávia. As aeronaves não-furtivas são vulneráveis à detecção tanto por radar como ótica (incluindo IR) em alcances muito longos, mas as aeronaves com características furtivas não estão totalmente imunes à exigência de suporte SEAD eficaz. Sua assinatura varia em 3 dimensões com base no ponto de vista do observador. A realidade de se lidar com uma defesa antiaérea integrada é que não se pode manobrar para minimizar a assinatura contra todas as ameaças o tempo todo. É possível manobrar contra uma única ameaça, aérea ou terrestre; porém todas as outras têm um ângulo de visão diferente. Se os radares da ameaça não forem suprimidos, um deles obterá uma visada boa o suficiente do alvo para obter um rastreamento estável e consistente. Uma vez que um radar se fixe em um alvo, a quantidade de potência que ele pode alocar no alvo poderá aumentar em magnitude, e com mais força vem uma detecção mais clara. Qualquer que seja sua missão de contraofensiva aérea, quem estiver constantemente engajado, não a estará cumprindo.

Uma missão de interdição se deparará com o pior de todos os cenários possíveis. Quase por definição, um alvo de interdição é aquele que vale a pena destruir e, portanto, vale a pena ser defendido. É improvável que o alvo esteja secundariamente protegido pelo sistema integrado de defesa aérea. Geralmente está bem no meio, o que significa que as aeronaves que penetrarem estarão rodeadas de ameaças. Os sistemas de armas de ponto são impossíveis de suprimir a não ser por bombardeio direto, altamente vulnerável, mas são de curto alcance. Da mesma forma são os SAMs IR, também de curto alcance, que não funcionam com mau tempo e, como a artilharia antiaérea, não são fáceis de empregar de forma eficaz à noite. Se um defensor antiaéreo deseja cobrir grandes áreas de território com um sistema baseado em solo, ou fazê-lo à noite ou com tempo ruim, o radar é uma necessidade. Uma aeronave em uma surtida de interdição não só é incapaz de gerenciar os pontos delicados de manobra para maximizar a redução de assinatura, mas estará sempre rodeado de ameaças à espreita. Por outro lado, os ataques a estes alvos costumam ser “uma passagem”, onde a imprecisão não é pré-requisito. Apenas a primeira aeronave trará consigo o elemento surpresa, e quando as outras aeronaves aparecerem, todos os artilheiros já fizeram seus cálculos e chegaram à conclusões óbvias.

Em face de um baixo estado de prontidão em tempo de paz, aeronaves furtivas podem transpor através do espaço aéreo inimigo sem serem observadas. O mesmo acontece com as aeronaves sem estas características. O MC-130 é a aeronave usada para inserir e apoiar forças de operações especiais nas profundezas do território inimigo - e pode ser o mais eficaz penetrador do espaço aéreo de todos os tempos. O C-130 é a antítese de uma aeronave furtiva do ponto de vista de design. Ainda assim, nem os voos de reconhecimento individuais, nem os infiltrados do Comando de Operações Especiais estão tentando penetrar em um sistema de defesa aérea denso e alerta em números significativos o suficiente para surtir efeito. Contra uma rede de defesa aérea moderna, uma capacidade SEAD robusta, redundante e capaz não é um luxo - é uma necessidade.


As SEAD como Missão Componente

A experiência no Vietnã demonstrou que a supressão das defesas inimigas é uma missão dinâmica, que exige intenso treinamento e equipes dedicadas. A mistura da tripulação, combinando um piloto com um oficial de guerra eletrônica (EWO), foi a primeira de seu tipo, e foi mantida até a aposentadoria do F-4G “Advanced Wild Weasel”. Se o programa “Follow-on Wild Weasel” não tivesse sido cancelado, ele também teria um piloto / tripulação EWO. Os esquadrões “Weasel” não eram verdadeiras unidades multifuncionais, embora mantivessem altos níveis de proficiência em outras funções de combate aéreo. Esta especialização requer um grande investimento em treinamento realista, mas paga grandes dividendos em combate.

Não seria correto medir a eficácia de um esforço SEAD contando o número de radares neutralizados. O objetivo da supressão é tornar os mísseis ineficazes, enquanto as aeronaves aliadas ficam vulneráveis ao engajamento. A métrica não é o número de radares postos na inoperância, mas o número de aeronaves não perdidas. Neutralizar uma bateria de defesa antiaérea é a cereja do bolo e significa que ela não estará disponível no dia seguinte, mas uma missão SEAD é cumprida com sucesso apenas tirando o radar do ar por um curto período.

A tríade do combate eletrônico era uma coleção de várias contramedidas projetadas para atacar um sistema de defesa aérea em vários pontos. Os “Wild Weasels” de 2 lugares, originalmente os F-100F Super Sabres e, eventualmente, F-4G Phantoms, destinavam-se a localizar radares emissores e suprimi-los ou destruí-los usando mísseis ARM (anti-radiação) ou munições de queda livre, um avanço em relação aos foguetes do F-100F e armas burras. O EF-111A Raven dispunham dos mesmos poderosos bloqueadores de radar que o EA-6B da Marinha, e foi projetado para evitar que os radares de aquisição detectassem aeronaves e as passassem para os radares de controle de fogo. O subestimado EC-130H “Compass Call” começou a vida em 1981 como um bloqueador de comunicações, projetado para obliterar as comunicações de voz e dados para interceptores soviéticos e SAMs móveis. Posteriormente, foi atualizado para incluir seus próprios bloqueadores de radar. Todos os 3 sistemas, funcionando juntos, pretendiam trazer um sistema integrado de defesa aérea a um estado em que os radares não pudessem ver, os pilotos e controladores não pudessem falar e as atribuições de alvos não pudessem ser feitas - enquanto mantinha-se uma ameaça letal sobre as cabeças dos operadores de radar inimigos. Assim como o fogo supressor usando armas pequenas, o objetivo era obrigar os operadores inimigos a manter a cabeça baixa e prejudicar seu desempenho, caso decidissem tentar. O mesmo ocorria com os SAMs. A supressão ocorria nas mentes dos operadores de defesa aérea inimiga, lembrando estes operadores de que existe uma tripulação de caça bem armada e equipada com sensores que tem como missão principal colocar os sistemas de radar fora de ação. Um sistema SAM totalmente autônomo não poderia ser suprimido de forma eficaz se os computadores não se importassem com a autopreservação. Na Operação “Desert Storm”, os operadores de defesa antiaérea que perderam de vista os requisitos de preservação do sistema, morreram nas primeiras 72 horas. Operadores sobreviventes frequentemente respondiam à presença de interferência desligando seus radares com base na teoria de que, se havia um bloqueador lá fora, logo atrás dele estava um “Weasel”. Eles frequentemente estavam certos. Quanto mais cedo um operador descobria isso, maior a probabilidade de sua bateria sobreviver à guerra.

Esse nível de intimidação foi alcançado apesar de um ambiente em que se poderia pensar que o SAM levava vantagem. Afinal, o engajamento começa no momento da escolha da bateria, contra um alvo escolhido pelo operador, em condições onde é sempre uma surpresa para a tripulação. As condições podem se equalizar muito rapidamente, e um sistema SAM que ativa seu radar não é apenas revelado, mas destacado. Na Operação “Desert Storm”, diante de tripulações bem treinadas e muito agressivas, os sistemas SAM foram rápida e efetivamente alvejados em tempo real, mesmo quando os próprios “Weasels” eram os alvos. Durante esta campanha, houve 21 engajamentos documentados por um SAM contra um F-4G em que o operador não abandonou o engajamento no meio do caminho. Em 14 desses confrontos, a bateria SAM foi neutralizada pelo ala da aeronave alvo, sendo que nenhum F-4G foi abatido.

Alguns efeitos supressivos duram muito além do combate imediato, desde que uma ameaça letal e crível esteja presente. Os defensores antiaéreos sérvios planejavam mover-se após cada engajamento, tivessem sucesso ou não. O lançamento de um míssil ARM, era o sinal para a bateria do SAM abandonar qualquer disparo, desligar, embalar e se mover antes uma aeronave da OTAN aparecesse. Os sistemas de radar que permaneceram no local por muito tempo porque foram danificados, imobilizados ou simplesmente porque tinham operadores imprudentes, foram caçados e mortos pelos F-15E. Os defensores antiaéreos sérvios permaneceram vivos irradiando pouco e se movendo muito, e tudo isso prejudicou sua capacidade de defender seu espaço aéreo.


O Desafio da Mobilidade

Um dos resultados da Operação “Desert Storm” foi que as defesas antiaéreas mudaram sua doutrina de posições estáticas para uma condição de mobilidade. Começando em 1967 com o SA-4 Krug notoriamente incapaz, os soviéticos colocaram em campo SAMs móveis para proteção das unidades em manobra. O SA-6 Kub, colocado em campo no mesmo ano, era um sistema muito mais capaz e provou ser a ruína das aeronaves da IDF (Força de Defesa Israelense) sobre o Sinai em 1973. Os sistemas de acompanhamento eram móveis porque pretendiam defender as forças terrestres em avanço, não porque eles precisavam evitar ser atacados. Isso mudou depois de 1991, quando a mobilidade foi abraçada como um meio de evitar as consequências de ter emergido do esconderijo. Muitos sistemas antes estáticos, foram reorganizados em mais plataformas móveis. Hoje, apenas o enorme SA-5 Gammon permanecem imóveis, e por boas razões. Entre os países com redes de defesa antiaérea, a Coréia do Norte está sozinha em não abraçar uma doutrina de mobilidade, em vez disso, opta por fortificar seus sistemas, com o ônus de que não podem apoiar movimentos terrestres ofensivos com SAMs guiados por radar.

A campanha no Kwait significou o fim do sistema do radar estático. Hoje, todos, desde radares VHF de banda baixa até baterias SAM de longo alcance, são móveis. Mas a mobilidade tem um preço. Com exceção dos sistemas de alcance muito curto, como o SA-15 Gauntlet (Tor-M1) ou os sistemas Tunguska, os radares móveis não podem fazer capturas em movimento, muito menos atirar nesta condição. Sistemas SAMs em movimento, especialmente os sistemas de longo alcance, não podem operar, ficando inúteis nesta condição. Um elemento SEAD suficientemente agressivo pode forçar um adversário a uma postura defensiva em que os sistemas devem se mover após cada combate para evitar retaliação. Isso só pode ser realizado se o adversário acreditar que a retaliação contra uma posição revelada seja inevitável e eficaz. A mobilidade do sistema é um atributo, não uma restrição.


Manutenção da Capacidade de Penetração

O desafio de penetrar no espaço aéreo bem defendido não está sujeito a simples soluções tecnológicas. Não há "bala mágica" que de repente tornará obsoletos os sistemas modernos que estão em aperfeiçoamento desde antes de 1991. A negligência quanto a guerra eletrônica, atrasando atualizações de aeronaves e reduzindo horas de voo devido à ausência de ameaças momentâneas implicará em tempo e muitos recursos para se adquirir novamente estas capacidades. Independentemente dos formatos das forças futuras, sejam elas pesadas ou leves, a capacidade SEAD será um ingrediente indispensável para um implemento de poder aéreo confiável. Não apenas é necessário ter uma tríade de combate eletrônico moderna, mas esta deve ser explicitada a aliados e adversários em potencial. Em um ambiente dominado por SAMs avançados e redes integradas, são necessárias soluções personalizadas neste tipo de combate.

A Evolução da Ameaça

Desde a Guerra do Golfo, o ambiente de defesa antiaérea mudou radicalmente. As capacidades de guerra eletrônica americana destruíram as defesas antiaéreas do Iraque. O F-117A foi capaz de penetrar com relativa facilidade através de uma defesa antiaérea iraquiana construída sobre sistemas soviéticos que foram colocados em campo entre 1955 e 1970. O design furtivo do F-117 provou ser mais do que um desafio para os defensores aéreos iraquianos, mas esta vantagem foi transitória. Na Operação “Allied Force”, a USAF sofreu sua primeira perda em combate de uma aeronave stealth, abatida por SAMs sérvios com um par de sistemas de radar antigos que datavam de antes da Guerra do Vietnam. Estes sistemas que os iraquianos também tinham em seu inventário quase uma década antes.

Assim que os EUA mostraram suas novas capacidades, os russos e chineses sabiam exatamente o que a indústria de defesa americana havia feito e por quê - e começaram a tentar contra-atacar. Eles conheciam a física e entendiam perfeitamente que, mudando a frequência de seus radares para níveis inferiores, poderiam anular grande parte da vantagem dos EUA em relação à discrição de suas aeronaves.

A USAF estava presa em uma armadilha criada por ela mesma. Tendo abandonado em grande parte suas capacidades de guerra eletrônica (EW) comprovadas em combate para financiar a aquisição de aeronaves stealth, a mais poderosa força aérea do mundo se encontrava sem uma capacidade de combate eletrônico robusta, exatamente quando sua vantagem em stealth estava se desgastando. O desaparecimento de sua tríade (F-4G, EF-111A e EC-130) de combate eletrônico causou a perda de pessoal experiente, deixando poucos operadores na força com experiência em combate com os F-4G e EF-111A aposentados há muito tempo. Como resultado, a USAF demorou a reconhecer que foi tecnologicamente superada. Combinado o esvaziamento de sua força de caça devido a um quarto de século de negligência e subfinanciamento, correu o risco de retornar aos dias sombrios de 1965,quando enfrentou perdas sem precedentes de uma ameaça que deveria ter visto chegando nos céus do Vietnam. A ameaça evoluiu, e os dias de aeronaves furtivas fornecendo uma derrota decisiva acabaram. Em quase todos os aspectos, o equilíbrio relativo entre as capacidades dos EUA e a ameaça é pior do que há 25 anos. Entender isso é um passo necessário para restaurar uma capacidade de supressão de defesa capaz de permitir operações aéreas em face de uma ameaça de defesa antiaérea moderna.

Os Primeiros Experimentos

O radar surgiu como um meio de detectar e engajar aeronaves (e navios) na Segunda Guerra Mundial. Ele atua refletindo uma onda de rádio em um alvo que é medida pelo seu receptor. Assim que os sistemas de radar foram colocados em campo, os cientistas começaram a trabalhar em métodos para contrapô-los. Um desses métodos o de negar a reflexão, ou seja, através de um conjunto de técnicas totalmente passivas denominada tecnologia furtiva, reduzindo a quantidade de energia proveniente do radar que se refletiu em um alvo. Os EUA aplicaram o stealth (tecnologia furtiva) em uma parcela muito pequena de suas aeronaves de combate. Em 1991, havia 3.926 aeronaves de caça/ataque convencionais na USAF, incluindo aeronaves da reserva e da Guarda Aérea Nacional, em comparação com 55 F-117 furtivos. Essas 55 aeronaves foram apropriadamente consideradas uma reserva estratégica incomparável com qualquer lugar do mundo, mas os analistas da época previram que essa vantagem teria vida curta. Em 1985, a “Central Intelligence Agency” (CIA) publicou uma estimativa de inteligência nacional especial intitulada “Soviet Reactions to Stealth” que previu os rumos prováveis da pesquisa contra-stealth soviética. Não foi uma decisão difícil da CIA - a física teórica envolvida era bem compreendida pelos cientistas soviéticos.

Como um lembrete, quanto maior a frequência de um radar, menor o comprimento de onda. Frequências altas eram frequentemente preferidas para radares de controle de fogo, porque os feixes podiam ser estreitados e os comprimentos de onda mais curtos forneciam informações de alcance mais estreito. A compensação era clara - radares de baixa frequência (2.000 MHz e abaixo) podiam viajar mais longe e carregar mais energia, mas não podiam localizar alvos com precisão suficiente para atirar neles. Portanto, os radares foram efetivamente separados por função - os radares de alerta antecipado detectariam aeronaves a longas distâncias e, em seguida, os transferiram para um controle de fogo de alta frequência mais preciso ou para radares de rastreamento de alvos. Foram nestes radares de rastreamento de alvos que os projetos stealth americanos se concentraram, porque eram eles que direcionariam as armas. Foram os radares de baixa frequência que ofereceram a melhor chance de detectar aeronaves, mas se eles não podiam atirar (e não podiam), as defesas antiaéreas não se beneficiavam deles. Simplificada, a defesa aérea requer detecção básica (alerta antecipado) de aeronaves inimigas antes que as armas (SAMs e AAA) possam ser guiadas por radares de controle de fogo de alta fidelidade que rastreiam o alvo com mais precisão.

As bandas de rádio chamadas de “frequência muito alta” (VHF) e “frequência ultra-alta” (UHF) são, curiosamente, bandas de frequência relativamente baixas. Em 1978, quando foi tomada a decisão de produzir a aeronave F-117A, haviam 4 sistemas operacionais de radar de vigilância soviéticos que operavam na banda de VHF, 2 dos quais haviam sido copiados pelos chineses. Os radares UHF estavam em serviço generalizado. Mesmo assim, nenhum desses radares tinha capacidade de localização de altura e sua resolução era ruim, tanto em azimute quanto em alcance. Chamados de radares 2D, eles foram a última geração de radares desenvolvidos sem qualquer processamento de sinais digitais. Em suma, eles eram incapazes de fornecer a precisão necessária para guiar um míssil SAM. Sem um localizador de altura VHF (que não existia), esses radares de alerta precoce de baixa frequência não podiam nem mesmo determinar a altitude de qualquer aeronave furtiva que um operador de radar muito atento e habilidoso pudesse ter detectado. Os operadores de defesa antiaérea soviéticos (e seus clientes iraquianos), portanto, não estavam equipados para localizar o F-117, um fato que se tornou dolorosamente óbvio em 1991.

Mas os designers soviéticos não estavam dormindo. Na Guerra do Golfo, os soviéticos já haviam instalado 2 radares de alerta 3D modernos na faixa de VHF. “Tall Rack”, que foi referenciado no estudo da CIA de 1985, estava operacional antes do F-117, e os radares Soviéticos “Box Spring” e “Chinese Type 408C” foram colocados em campo antes da Guerra do Golfo.

Hoje, os russos e chineses construíram meia dúzia de novos sistemas VHF, atualizaram sistemas mais antigos e implementaram uma dúzia de novos sistemas nas bandas UHF e L. Algumas dessas capacidades, particularmente os radares mais antigos atualizados, foram amplamente exportadas. Como os sistemas de defesa antiaérea que eles suportam, esses sistemas mais novos são móveis e, em alguns casos (Vostok-E), podem estar em movimento em até 8 minutos após o desligamento. Os bons velhos tempos em que os caças stealth podiam contar com um ambiente esparso de radares de alerta precoce não apenas se foram - eles se foram há duas décadas.



Implicações Operacionais

Os radares de baixa frequência não são usados principalmente como uma solução antifurtiva; eles são amplamente utilizados onde o longo alcance é necessário e as soluções de controle de fogo não. Relatórios surgiram apontando de que o F-22 pode ser visto nos radares de controle de tráfego aéreo da “Federal Aviation Administration” (FAA). Esses relatórios são negados pela USAF ou ditos como sendo de pouca importância porque os radares nesta faixa não estão associados ao controle de fogo, uma afirmação categoricamente falsa. Os radares ASR-9 e ASR-11 da FAA operam na mesma banda S usada pelos radares “Fan Song” B / F (SA-2) e “Fire Can” (AAA) vietnamitas. Entre 1965 e 1971, SA-2 abateu pelo menos 130 aeronaves americanas. O número de aeronaves abatidas pelo “Fire Can” ou SA-2B / F de 1972 a 1973 não está totalmente claro. As bandas inferiores podem e detectam aeronaves com assinaturas de baixa radiofrequência (RF), mas podem e devem engajar aeronaves de caça.

Mesmo se um radar de alerta precoce não puder guiar um míssil, ele ainda pode guiar caças ou sinalizar outros sensores que possuam a precisão necessária para disparar um SAM. Os radares de defesa aérea modernos têm envelopes de incerteza muito pequenos, recursos concedidos com formas de onda complexas e processamento de sinais digitais. O maior valor da tecnologia furtiva é a capacidade de evitar a detecção. Uma vez detectado, esse valor é perdido. Pode ser que os radares de alerta antecipado não possam identificar imediatamente uma aeronave detectada, mas isso é irrelevante. Esses radares podem entregar aeronaves detectadas para outro sistema fazer o engajamento ou direcionar um interceptador. Os projetistas de radares russos e chineses pensaram nisso em detalhes ao longo de muitos anos. Em um sistema de defesa aérea denso como os da China ou da Rússia, um engajamento acabará acontecendo.

Por muitos anos, os sistemas SAM foram projetados para operar em frequências mais altas. Os radares de rastreamento de alvos SA-3, 5, 6, 10, 11, 12, 15, 17 e 20 operavam em bandas C ou X, com o SA-8 e SA-19 de curto alcance nas bandas Ku e K. Dado que esses sistemas estão amplamente proliferados, parecia que a baixa observabilidade otimizada para as frequências mais altas seria um bom investimento.

Mas, como os radares de alerta antecipado mencionados acima, os radares de engajamento viram uma mudança semelhante nas frequências de operação, particularmente em projetos chineses. Na última década, nenhum radar SAM chinês foi colocado em campo na banda I (banda X inferior), tão favorecida pelos designers soviéticos. Em vez disso, os sistemas chineses diminuíram de frequência e os russos adotaram a diversidade de frequência. O “Nebo M” russo, um sistema lançado em 2012, tem como objetivo específico detectar e engajar o F-35 usando um conjunto de 3 radares nas bandas VHF, L e X. Este é o primeiro sistema projetado como um conjunto integrado em vez de depender da integração de sistema externo usando um comando vinculado e arquitetura de controle, e é projetado para se conectar diretamente a uma bateria SAM no nível de subunidade ou (mais provavelmente) de brigada. Os sistemas de detecção passivos provavelmente podem ser integrados em uma configuração de bateria “Nebo M”. À medida que os sistemas SAM mais antigos envelhecem, o mesmo ocorre com a preferência pelos radares de banda X.

Para piorar a situação, os russos desenvolveram um radar de banda L para os caças Sukhoi Su-27/30/35 Flanker, uma banda de baixa frequência normalmente usada por radares terrestres. Buscando uma solução para combater os caças stealth, a Tikhomirov NIIP apresentou um radar AESA na banda L em 2009. Instalado nas bordas de ataque das asas e cauda do caça, foi o pioneiro de seu tipo no arsenal russo. Anteriormente, os radares de baixa frequência eram instalados apenas em sistemas aerotransportados de alerta antecipado, como o israelense Phalcon e o Gulfstream 550 Eitam, o indiano A50EI, o australiano Wedgetail, o chinês KJ-2000 e o novo E-2D da US Navy. Equipar caças com radares de baixa frequência é uma tentativa explícita de permitir que caças russos enfrentem caças stealth norte-americanos, como o F-22 e o F-35.

Felizmente para a USAF, ela não teve que aprender sobre essa ameaça da maneira mais difícil, ainda. Os EUA nunca enfrentaram um SAM de “2 dígitos” em batalha. O SA-10 foi colocado em campo em 1980, mas nunca foi exportado para o Iraque ou a Sérvia. Consequentemente, a USAF nunca teve que lidar com uma ameaça altamente móvel, capaz de envolver vários alvos simultaneamente com mísseis hipersônicos. Hoje, os sistemas SAM de longo alcance são protegidos por SAMs de curto alcance, que podem ser defendidos por baterias de ponto. Além do radar, os sistemas passivos de detecção de radiofrequência estão se tornando mais acessíveis e melhores. Pode-se comprar uma câmera térmica pela internet. Cientistas chineses estão explorando técnicas de detecção de alvos multiespectrais para a esteira de exaustão emitida pelos jatos. Os métodos para localizar aeronaves estão recuperando o equilíbrio perdido quando o F-117 explorou sua vantagem de baixa detectabilidade. Reduzir a assinatura de uma aeronave sempre fornece algum tipo de benefício de sobrevivência, mas esses benefícios têm um custo que pode ser inaceitável em combate. Considere o F-117, que tinha uma assinatura muito baixa em vários espectros, mesmo além do radar, porém era muito limitado em carga útil, não podia agir cooperativamente, não possuía capacidade ar-ar e era fundamentalmente bom apenas para atingir grandes alvos fixos vulneráveis com armas na classe de 2.000 libras em um alcance relativamente próximo. Uma aeronave muito específica para alvos muito específicos, com flexibilidade operacional muito pequena.


Os Efeitos da Redução da Assinatura

A redução da assinatura-radar ainda continua válida; com todas as outras variáveis se mantendo, ela reduz o alcance no qual uma aeronave pode ser engajada por uma ameaça específica. Isso é mais importante para algumas aeronaves do que para outras. Embora usar dados de código aberto para calcular intervalos de detecção seja um negócio arriscado, as curvas de detecção têm todas a mesma forma. Reduzir a seção transversal do radar (RCS, ou assinatura do radar de uma aeronave) de 10 metros quadrados (F-4) para um metro quadrado (B-1B) tem um efeito muito grande na faixa externa do envelope de detecção, mas reduções subsequentes em assinatura tem efeito progressivamente menor na faixa de detecção absoluta. Por exemplo, para em um moderno sistema de defesa antiaérea de curto alcance (SHORADS), uma aeronave com um RCS de 10 metros quadrados (menor que um F-4 Phantom) pode ser vista pelo radar a 48 milhas náuticas. No momento em que o RCS desce para 0,1 metros quadrados (aproximadamente o tamanho de um drone), o radar de aquisição pode detectar o alvo cerca de 30 segundos antes de atingir o alcance máximo do míssil. Contra um alvo de RCS genuinamente baixo, o alcance de detecção está dentro do alcance do míssil, o que significa que no momento em que a aeronave é detectada, o SAM desistiu de seu envelope de engajamento, assumindo que o alvo não foi visto por sensores ópticos.

Calculando o Alcance

A equação de alcance do radar é bem conhecida. Não há dúvidas sobre as implicações da redução das assinaturas de radar entre os adversários dos EUA, mas falta um pouco o conhecimento equivalente sobre os desenvolvimentos de ameaças enfrentadas pelo poder aéreo. Com a aposentadoria dos meios de guerra eletrônica, a USAF se desfez de uma comunidade de aviadores que possuíam profundo conhecimento da ameaça adversária. Isso, por sua vez, levou a uma dependência excessiva da furtividade-radar, em detrimento de outras capacidades que podem ajudar na penetração do espaço aéreo defendido.

Para os sistemas SAM mais poderosos, a invisibilidade do radar sem assistência pode não permitir que uma aeronave chegue mais perto, mesmo em voos baixos. Sobre a água, um caça a 200 pés de altitude atinge o horizonte do radar do Vostok E a 25 milhas náuticas, o que requer uma enorme redução de assinatura. Para um operador sem armas de longo alcance, é muito trabalhoso manobrar para se afastar de um alvo bem defendido. Mas existem técnicas testadas pelo tempo que podem complicar ainda mais o desafio para um defensor aéreo, como o ataque eletrônico (bloqueio) ou supressão de defesa letal usando mísseis ARMs. Independentemente das medidas usadas para atrasar o engajamento, a SEAD ainda é um atributo-chave do campo de batalha moderno.

Deve estar claro para as forças aéreas agora que a abordagem sem suporte de média altitude imaginada pelos partidários de aeronaves furtivas é simplesmente inviável contra uma matriz de ameaça que é móvel, interligada e usa múltiplas modalidades de sensores para detecção de alvos, identificação e ameaça avaliação. Os conceitos atuais para lidar com um ambiente de negação de área são sutis em detalhes de execução, com muitos procedimentos operacionalmente não executáveis. As forças aéreas que quiserem ter alguma capacidade de penetrar no espaço aéreo bem protegido com massa crítica suficiente para realmente alcançar efeitos significativos, terá que adotar técnicas mais antigas e reconhecer que o ambiente de ameaça hoje é qualitativamente diferente da ameaça enfrentada pelo F -117A há um quarto de século. A ameaça evoluiu, e as forças aéreas também devem fazê-lo.








Executando a Missão

O perfil de um missão SEAD difere de uma força a outra, de acordo com as doutrinas específicas de cada uma. No entanto, pode-se descrever um roteiro genérico que adaptados as especificidades de cada força, mostra de uma forma bem sintética como estas missões são executadas:

Para que possam ser disparadas, as armas antiaéreas devem ser alimentadas com os chamados elementos de tiro, ou seja, uma deriva e uma elevação. Devido a fugacidade de seus alvos, um projétil antiaéreo deverá "adivinhar" em que local do espaço aéreo seu alvo estará quando ele lá chegar, ou no caso dos mísseis ser capaz de corrigir sua trajetória de acordo com o deslocamento e as manobras daquele. Tais elementos são determinados baseados em dados como distância, altura, velocidade e trajetória do alvo obtidos por radares de direção de tiro. Estes "dados brutos" são processados por um computador balístico que os transforma nos elementos de tiro, os quais são fornecidos para as armas propriamente ditas "fazerem fogo" de forma eficaz. Toda esta operação transcorre em frações de segundo.

O objetivo específico de uma missão de supressão de defesas é atingir estes radares diretores, sem os quais as antiaéreas a SAMs deixam de ser eficientes, ficando literalmente "cegos" e atirando a esmo. Como toda missão militar, as SEAD começam com as incursões de reconhecimento, neste caso com aeronaves especializadas em EW a fim de identificar equipamentos e determinar localizações, de forma que um plano de ataque eficiente possa ser montado.

Para atingir estes radares usam-se os chamados mísseis anti-radiação (ARMs), projéteis que são guiados pela radiação emitida pelo próprio radar-alvo. É importante que o radar esteja ligado para orientar o míssil. Estes normalmente ficam desligados evitando denunciar sua posição ao inimigo, sendo ligados por breves instantes e novamente desligados. Ao serem alertados pelo radar de vigilância da aproximação de aeronaves, os artilheiros ligam seus radares, colocando-se em condições de disparo. Neste momento a aeronave fica extremamente vulnerável, razão pela qual deve-se usar uma aeronave-isca (normalmente uma não tripulada), capaz de simular eletronicamente as aeronaves esperadas pelos artilheiros. Se estes desconfiarem do engodo desligarão imediatamente os radares-diretores, frustrando a manobra. A aeronave pode usar defesas próprias como contramedidas eletrônicas (CME), chaffs e flares como última instância de defesa. A forma ideal de neutralizar os alvos deve ser primeiramente por todos os meios de ECM de longa alcance e ARMs. Uma outra maneira de diminuir o tempo de reação é lançar um ARM contra áreas suspeitas a frente da força de ataque.

Uma segunda aeronave armada com o míssil ARM, voa no alcance da posição do radar-alvo, a baixa altura protegida pelo terreno. A manobra deverá ser coordenada por um posto de comando, geralmente um AWACS, que chamará o bombardeiro no momento em que a primeira aeronave começar a ser rastreada pelo radar-diretor. Esta eleva-se de sua proteção expondo seus sensores. Se estes detectarem o radar inicia-se o ataque, caso contrário volta para a proteção reiniciando o procedimento. Uma vez detectado o radar, o bombardeiro desce para elevar-se novamente de uma posição inesperada, quando dispara seu míssil. Este, guiado pela radiação do radar-alvo, dirige-se a ele. O bombardeiro realiza manobras evasivas para evitar contra-ataque e retorna a posição protegida.

Uma vez atingido o radar-alvo, o posto de comando aciona outros bombardeiros armados com bombas convencionais ou direcionadas ou ainda mísseis ar-superfície para destruírem as armas propriamente ditas, liberando a área para outras aeronaves operarem em segurança. Ser for necessário caças de superioridade aérea devem dar cobertura a operação, neutralizando ameaças aéreas. Outras aeronaves como as de guerra eletrônica, sempre que disponíveis, darão apoio especializado.



4 comentários:

  1. A falta de experiência dos russos com missões SEAD é uma das coisas que está dificultando as operações da Força Aérea Russa nessa invasão da Ucrânia.

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    1. Aparentemente os russos estão demonstrando falta de experiência em todas as áreas.

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